Jorge Finatto
Neste mês em que faz um ano da morte de José Paulo Bisol (26 de junho, 2021), reproduzo este texto que escrevi e publiquei aqui no blog em 7 de fevereiro de 2012.
pinturas: Maria Machiavelli |
Naquele mínimo universo, não havia liberalidades de espaço, de dinheiro (que se contava aos centavos para o ônibus e o prato feito do almoço) e muito menos de ternura.
Tudo minimalista.
Ele, as sibilas, as traças e os livros povoavam aquele território perdido, cercado de austeridade e solidão por todos os lados.
O calado morador não sabia e nem tinha disposição para cozinhar. Comer sozinho, todos os dias, deixa o cara meio bicho. O que saía (ao amanhecer e antes de dormir) era uma singela e morna taça de café com leite, pão e manteiga.
Solidão, farelo de pão. A festa das baratas.
Lá fora, na rua, a ditadura militar.
Havia naquelas frases um entusiasmo, uma ideia de que tudo na vida é possível. E, naquela altura, era mesmo.
(Palavras acendem um coração apagado.)
Com o bornal ao ombro e uma esperança difusa no peito, o sobrevivente saía então para enfrentar o mundo onde ganhava o pão como revisor de livros.