J.F.
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photo: jfinatto |
Campos de Cima da Serra
um pedaço de céu na Terra.
- Dilúvio 2024 -
Essa dor vai passar.
a vida de todos os dias, a que eu sempre quis {textos e imagens: Jorge Finatto}
Jorge Finatto
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photo: Gabriel |
Um fenômeno raro - mais um - está ocorrendo neste momento na querida Ushuaia, cidadezinha argentina mais ao Sul do continente, conhecida também como Cidade do Fim do Mundo. Depois dela, o Estreito de Drake e a Antártica.
Trata-se da Aurora Austral decorrente de tempestade solar severa que está ocorrendo desde sexta-feira, podendo atrapalhar o funcionamento de redes de energia e sistemas de comunicação via satélite, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos
Em Ushuaia está o fim da Cordilheira dos Andes (ou o início pra quem olha de lá para o Norte). À beira do Canal de Beagle, que liga o Atlântico ao Pacífico, é um lugar único, frio o ano inteiro, que vale a pena conhecer.
Bem, nós aqui no Rio Grande do Sul não precisamos de mais um desastre natural a comprometer nossas vidas. Que Deus acalme também o Sol e proteja a todos nós.
A photo foi enviada à minha filha Clara por seu amigo argentino Gabriel, lá residente.
Jorge Finatto
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photo: Clara Finatto, bairro Menino Deus, Porto Alegre. |
Primeiro foi o vento, o vento, o vento cavalo doido galopando nas ruas, nas janelas e telhados
depois veio a chuva, dilúvio sem arca, festival de relâmpagos, trovões, raios e apagamentos
depois chegou a noite, a noite vertical e imemorial do início dos tempos, noite gelada, de pedra, indevassável
saltou o grito (ninguém ouviu), e a água subiu, a água tocou a nuvem, a casa desmoronou e tudo que ela guardava, coisas, lembranças, sentimentos, afundou
então fez-se silêncio, o silêncio noturno e ermo dos ausentes, sufocado pela correnteza cor de barro.
Jorge Finatto
Nunca presenciei uma situação como essa. Por força da profissão trabalhei em várias cidades do Rio Grande do Sul, algumas delas no interior profundo. Experimentei diversos ambientes e climas. Mas jamais vi tempestades em seqüência por todo o Estado como as desta semana.
Nesta sexta-feira, faz seis, sete dias que convivemos com chaparrões e sua profusão de raios, relâmpagos, trovões, enchentes, desmoronamentos, interrupção de estradas, soterramentos de casas e pessoas. Mortes.
Também nunca tinha ficado isolado, sem poder ir para outras cidades em função da destruição de estradas. Mas isso neste momento é o de menos. A tristeza está no fato de ver tantas pessoas desalojadas de suas casas e muitas outras desaparecidas, feridas ou mortas. Nem vou falar do trauma psicológico.
A crise climática é um fato presente aqui e em outros lugares. A "culpa" não é da natureza, mas da conduta humana. As piores previsões estão se confirmando.
Provavelmente chegamos, no planeta, a um ponto sem retorno. Ou alguém acredita no bom senso e nos bons sentimentos dos líderes mundiais? Mas a vida é hoje, e devemos fazer o que for possível para salvar a querência amada do Rio Grande do Sul, e nós, seus sofridos habitantes.
Jorge Finatto
Em forma de coração, o Antúrio é flor que harmoniza o ambiente e a alma.
Tê-lo em casa é uma inspiração para a beleza e os bons sentimentos.
Quem há de resistir tamanho encanto? Só os brutos. E os desiludidos da vida (que, por ele, podem talvez voltar a viver).
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photo: jfinatto
Jorge Finatto
"Morrer não é nada. Difícil é deixar de viver." A frase, que cito de memória, vem de um poema de Mario Quintana. E resume o meu sentimento em relação à finitude humana.
A morte não merece maiores considerações, acontece e fim. Viver é, sim, a grande notícia e é o que nos resta. Só de pensar que a maravilha terá fim um dia dá um nó no peito. Façamos como as rosas. Aproveitemos o milagre de cada dia.