Jorge Adelar Finatto
photo: jfinatto |
O coração do outono pulsa ao som dos Noturnos de Chopin.
Enquanto filósofos desvelam os insondáveis desígnios da condição humana, eu espero pelo pinhão cozido na chapa do fogão a lenha.
O vento roça os telhados e janelas.
A chegada da estação se adivinha na neblina, um pouco de frio, amarelo nas folhas.
Essas coisas me vêm na hora imprópria do farelo, olhando a estrela.
Espero que os pinheiros não se deixem morrer na crise cósmica que atravessamos.
O egoísmo e a maldade humana estão nos levando para o buraco.
Por cima vêm as catástrofes naturais como poucas vezes antes.
Existe alguma coisa que cala e sente quando vem o anoitecer, que olha a lonjura das estrelas, observa o mistério inumerável da vida, sabe que o tempo é curto pra conhecer e sentir tanta beleza.
Existe, na revelação do farelo, o sentimento de que faltam mais encontros com os amigos.
Faltam mais mesas pra ficar com as pessoas a quem amamos.
Há um excesso intolerável de realidade.
A beira da noite, no outono, impõe austeridades.
Ermos são os caminhos da hora do farelo.
As folhas amarelas do tempo caem em volta dessa hora descarnada.
A beleza da vida num voo de borboleta.
A impressionante leveza que a faz girar, levitar, divagar entre flores e ramos.
O ocre do outono deita sedas nos caminhos.
A palavra escrita recolhe nossa presença no mundo.
A palavra existe pra ser partilhada.
A hora do farelo traz a vontade de voar sobre os abismos e certezas.
Em que lugar enterraram o mistério, em que ilha de ausência no meio do oceano?
Talvez longe demais.
Se ao menos um anjo surgisse dizendo que nada foi em vão…
Foto: J. Finatto
poeta querido, nem o vao eh em vao...
ResponderExcluira proposito, quando vamos juntar nosso quarteto de novo, ao redor de um cabernet? abs, Graca
Graça Querida,
ResponderExcluirbreve, muito breve, vamos nos encontrar, se Deus quiser, e, claro, não será em vão.
Grande abraço
JAF