Jorge Adelar Finatto
Vulto na praça. A luz amarela seria poética, não fosse o perigo dos assaltos. Um observador oculto espreita no meio das buganvílias. Quem vem lá? Difícil saber na escuridão. A noite de domingo podia ser romântica. Mas há indivíduos dormindo nos bancos da praça. Dois bêbados mijam sob a pérgula.
A cidade não tem piedade dos seres delicados. Mas há que vencer o mal com o bem. É a hora do menestrel, da capa, da espada e do alaúde. Eis que surge das trevas o Cavaleiro da Bandana Escarlate, montado no seu cavalo branco. Veio galopando desde muito longe. Atravessa a praça cuidando pra não amassar as flores. Um cara passa correndo atrás de outro rua afora, gritando coisas impublicáveis.
O cavaleiro veste a capa de seda preta. A máscara negra não permite descubram-lhe o segredo. Traz o antiquíssimo alaúde a tiracolo. O instrumento pertenceu a um trisavô que veio fugido da Itália e aqui se estabeleceu no ramo dos embutidos.
O cavaleiro passa pro outro lado da rua e estaciona o alvo corcel debaixo do balcão da Meiga Donzela. Dedilha as primeiras notas nas cordas do formoso alaúde. A melodia acorda a musa, que, entre entontecida e furiosa, vai até a janela saber do que se trata. Não acredita no que vê.
O cavaleiro veste a capa de seda preta. A máscara negra não permite descubram-lhe o segredo. Traz o antiquíssimo alaúde a tiracolo. O instrumento pertenceu a um trisavô que veio fugido da Itália e aqui se estabeleceu no ramo dos embutidos.
O cavaleiro passa pro outro lado da rua e estaciona o alvo corcel debaixo do balcão da Meiga Donzela. Dedilha as primeiras notas nas cordas do formoso alaúde. A melodia acorda a musa, que, entre entontecida e furiosa, vai até a janela saber do que se trata. Não acredita no que vê.
O que quereis, ó cavaleiro do alaúde em riste? Acaso não percebeis que são altas horas? Deixai-me dormir, ó misterioso mascarado. Amanhã é dia de pegar no batente outra vez, voltar pra dureza da vida. Retornai ao vosso castelo de vento, ó romântico senhor, poupai-me. Do contrário, obrigar-me-ei a chamar os homens da lei.
O Cavaleiro da Bandana Escarlate silencia pra não comprometer mais ainda o idílio. Num gesto de rara nobreza, atira uma rosa branca no balcão e parte no trote. Ergue o alaúde na mão esquerda. Na praça, volta-se, empina o cavalo e grita eu retornarei na primavera, ó Estressada Musa.
Alguém abre uma janela próxima e o manda colher caju. Sem perder a altivez, o cavaleiro desaparece na noite. Um bêbado atira uma pedra e quebra a luminária da praça.
O Cavaleiro da Bandana Escarlate silencia pra não comprometer mais ainda o idílio. Num gesto de rara nobreza, atira uma rosa branca no balcão e parte no trote. Ergue o alaúde na mão esquerda. Na praça, volta-se, empina o cavalo e grita eu retornarei na primavera, ó Estressada Musa.
Alguém abre uma janela próxima e o manda colher caju. Sem perder a altivez, o cavaleiro desaparece na noite. Um bêbado atira uma pedra e quebra a luminária da praça.
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Foto: J.Finatto
Adelar até as musas, atualmente, estão à base de Lexotan...(rs)
ResponderExcluirNo fundo, como dizes, os românticos e os sensíveis, tem dificuldade em lidar com um mundo tão áspero.
Como pertenço a este povo bem sei das dificuldades diárias...e noturnas
Mas, o cavaleiro nos empresta a Luz como um arquétipo positivo em meio a urbanidade sem lei.
Espero que retorne bem antes da primavera.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Ricardo,
ResponderExcluirontem estava numa livraria e eis que de repente, não mais que isso (como disse o Vinicius de Moraes), parou numa estante ao lado um cidadão levando na cabeça... uma bandana vermelha.
A vida imita a arte, alguém já disse com toda razão.
Enquanto há musas e cavaleiros, há esperança...
Um abraço.
JF