Jorge Adelar Finatto
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
O desaparecimento do escritor português, aos 87 anos , na ilha de Lanzarote, situada no arquipélago espanhol das Canárias, onde vivia desde que o governo de Portugal censurou seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), representa uma dor pessoal para seus muitos leitores espalhados pelo mundo. Todos faziam parte da família espiritual que Saramago construiu através de seus livros, suas posições corajosas contra a injustiça, sua fé na razão humanista e na solidariedade como instrumentos de luta diante das trevas que inundam o planeta. Foi o primeiro e, até agora, único escritor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.
Numa época em que se misturam os conceitos de escritor e publicitário, em que o marketing pessoal muitas vezes vem antes do trabalho literário e da consciência do que este representa, José Saramago foi uma notória exceção. Antimarqueteiro por excelência, não se preocupava em atender as demandas e caprichos do mercado. Nele o cidadão andava junto com o criador de páginas belas, densas, simples e memoráveis. Dizia o que pensava e o que sentia . Não tolerava a opressão e a coisificação da vida. Não fugia dos temas polêmicos, a indiferença jamais fez parte de seu modo de ser e escrever. Queria denunciar a iniquidade e a desumanização, e o fazia com destemor, acendendo e partilhando a boa luz que emanava de seu espírito.
Esse homem de origem muito humilde, nascido na pequena povoação de Azinhaga, província do Ribatejo, em 16 de novembro de 1922, apontou a irracionalidade de religiões que investem contra a dignidade das pessoas. Criticou Israel na luta desigual, violenta e injusta contra os palestinos, acusou a perseguição movida ao juiz espanhol Baltasar Garzón por querer apurar os crimes cometidos pela ditadura franquista, e insurgiu-se diante de muitos outros atos de violência.
Terá cometido erros como todos, do contrário não seria gente. Mas o legado literário, ético e humano que deixa para as pessoas de todas as nações é digno de atenção e profundo respeito.
Em sua importante produção, encontramos livros como Levantado do chão (1980), O ano da morte de Ricardo Reis (1988), Ensaio sobre a cegueira (1995), O conto da ilha desconhecida (1998), As pequenas memórias (2006).
O blog que manteve a partir de 2008, intitulado O Caderno de Saramago, na página da Fundação José Saramago na internet, foi mais uma manifestação concreta de grande generosidade e capacidade de intervenção na realidade.
O homem silenciou.
A obra continuará viva entre nós.
Por isso, lhe seremos sempre gratos.
Adeus, José.
______
Foto: José Saramago, janeiro de 2009. Arquivo da Fundação José Saramago.
Textos do escritor, em itálico vermelho, extraídos do livro de poemas Provavelmente Alegria, Editorial Caminho, Lisboa, 1985.
Em sua importante produção, encontramos livros como Levantado do chão (1980), O ano da morte de Ricardo Reis (1988), Ensaio sobre a cegueira (1995), O conto da ilha desconhecida (1998), As pequenas memórias (2006).
O blog que manteve a partir de 2008, intitulado O Caderno de Saramago, na página da Fundação José Saramago na internet, foi mais uma manifestação concreta de grande generosidade e capacidade de intervenção na realidade.
Tenho um irmão siamês
(Minha morte antecipada,
Já deitada
À espera da minha vez.)
A obra continuará viva entre nós.
Por isso, lhe seremos sempre gratos.
Adeus, José.
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Foto: José Saramago, janeiro de 2009. Arquivo da Fundação José Saramago.
Textos do escritor, em itálico vermelho, extraídos do livro de poemas Provavelmente Alegria, Editorial Caminho, Lisboa, 1985.
Grande homem.......
ResponderExcluirLindo seu post para José Saramago!
ResponderExcluirO que sempre minimiza a perda quando um escritor aclamado parte é saber que muito do que escreveu está entre nós.
Abraços,
Carol
Adelar, foi-se um grande homem. Excelente escritor e defensor de idéias libertárias, mesmo que estas a indispusessem com os autoritários de plantão.
ResponderExcluirPena, o Juremir Machado da Silva ter feito críticas ácidas a sua personalidade. Neste momento de escurecimento humano, não vale destilar pucuínhas pessoais e ideológicas.
Morre alguém que semeava a luz num mundo cada vez mais obscuro...
Abraço.
Ricardo Mainieri
Irreparável perda para nosso mundo lusófono, insubstituível marca de simplicidade, coragem, boa-fé, lúcida razão que nosso planeta perde, mas ainda bem que deixou seu legado escrito ...
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