Jorge Adelar Finatto
De não ver os olhos estão vazios.
De não escutar os ouvidos estão ocos.
Um dia encontrei no mapa aquela cidade ao sul.
Um lugar que nasceu num tempo muito antigo.
Nela havia uma rua chamada Calle de los suspiros.
Fui até lá como atrás de um segredo.
A rua dos suspiros está povoada de passos perdidos.
Os fantasmas ocupam as casas coloniais.
Quem mora na rua dos suspiros?
A moça da janela olha as buganvílias.
O homem que não sai de casa vê seres incorpóreos nos telhados.
A luz das luminárias é amarelo calmo.
À noite se ouve nas pedras a batida de cascos de cavalos que não existem mais.
A rua dos suspiros é um camafeu pregado no oblívio.
Os ventos se reúnem na calle antes de sair a galope pelo mundo.
A dor envelheceu nesta rua.
Neste lugar, todos sofrem para dentro.
Há um salão de baile desabitado com mesas no escuro.
A orquestra foi embora carregando a música e os casais que dançavam.
A rua dos suspiros habita um retrato caído no tempo.
Quem chora a essa hora na calle deserta?
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Foto: J. Finatto
Imagem de Colonia del Sacramento, Uruguai.
Texto publicado no blog em 18/12/2010.
Tem certos lugares no mundo, onde o tempo parece que se cristalizou em uma época distante.
ResponderExcluirFui ao Uruguai, mas não à Colônia. Bem imagino a emoção que o poeta sentiu ao se deparar com estas emoções impregnadas nas casas, nas pedras escuras do calçamento.
Lindo poema!
Ricardo Mainieri
Amigo Ricardo,
ResponderExcluirColonia del Sacramento é uma rara visão e um sentimento. Dali se pega o navio - por sinal, uma beleza - que atravessa o Rio da Prata. Uma hora de viagem depois chega-se a Buenos Aires de Cortázar, Borges, Piazzolla, Gardel e tantos, tantos mais.
Forte abraço.
JF
Caro Jorge Adelar. É um bálsamo para a alma ler teu poema. Nada pode traduzir melhor a emoção que vivi ao conhecer este lugar mágico e misterioso, que parou no tempo. Parabéns por tão belas palavras.
ResponderExcluirTenho um projeto de livro (romance)que se passa em Colonia. Ainda estou levantando dados (pesquisa)para fornecer maiores dados para a minha narrativa. Portanto, deverei trabalhar nele, provavelmente no próximo ano, ainda. Além disso tenho um trabalho em curso, o que me permitirá deixar a ideia amadurecer um pouco mais. Em virtude disso, pensei, quando trabalhar nele, incluir teu poema na entrada de meu livro, com tua permissão, e, logicamente, citando os devidos crédito. Não sei tue email, porém, caso me concedas esta honra, me envies uma mensagem para meu endereço eletronico, que é josealfredo.duarte@gmail.com.
Um cordial abraço.
José Alfredo
Caro José Alfredo.
ResponderExcluirEm primeiro lugar, muito obrigado pela tua manifestação, que me deixa muito feliz. Por outro lado, desejo que tenha êxito no projeto do romance. O trabalho em si é muito gratificante (além de suado), não é mesmo?
Eu que fico honrado com a lembrança do meu texto. Vou fazer contato com o teu e-mail.
Um grande abraço.
JF