quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pequenas notícias

Jorge Adelar Finatto


O poema é uma pequena notícia, uma biografia mínima. É alguém contando sua passagem no mundo. Deve ser lido aos poucos, em lentos sorvos, à impossível pressa. Como quem estivesse a bordo de um breve barco que avança calmamente pelo rio. Sou capaz de ouvir o rumor dos remos batendo na água. 

Escrever poemas depois de Walt Whitman e Fernando Pessoa pode parecer um tanto quanto inútil. O imenso talento e a altura da obra destes dois poetas universais podem soar inibidores de novas vozes. Mas, abrindo um pouco mais o olhar, é possível reconhecer em cada indivíduo uma nova maneira de ver e sentir a existência. Como se a experiência do ser humano no planeta se renovasse em cada um de nós. Então, se assim é, o texto da vida está sendo sempre reescrito. Por isso todo canto é bem-vindo. Ninguém deve desistir diante da tradição. A obra dos que vieram antes deve servir de estímulo e inspiração, não de constrangimento. O resto é vida, trabalho e fé.
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Foto: J. Finatto

2 comentários:

  1. jorge, houve e haverá sempre génios que marcaram diferentes épocas com os seus diversos estilos. como dizes esses personagens podem servir de estímulo mas a criatividade do ser humano é ilimitada e há sempre lugar para o aparecimento de grandes poetas sem que estes fiquem necessariamente à sombra desses génios. quantos destes poetas apareceram mas que por circunstâncias contextuais não tiveram oportunidade de se dar a conhecer? e quantas vezes se descobrem génios em poesia dita marginal e nem sempre considerada pelos lobbies académicos? também há por aí muita má poesia que consegue ser publicada em grandes editoras! e quantas vezes descobrimos poesia genial em pequenos livros de edições limitadas escondidos em alfarrabistas? ou num qualquer cantinho de uma livraria? e gosto em particular da tua passagem “O poema ... Deve ser lido aos poucos, em lentos sorvos, à impossível pressa.”
    abraço helena

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  2. Helena.

    Isso que escreves é bem verdade. O grande Fernando Pessoa, em vida, passou à margem. A sua obra, hoje, está infinitamente viva. Quando estive em seu pequeno quarto, na casa que leva seu nome, em Lisboa, imaginei o quanto havia de isolamento e penumbra entre aquelas paredes. No Martinho da Arcada, ao lado do Tejo, há sempre um vaso com flor colhida no dia na mesa que ele ocupava, colocada pelo amável António. Tens razão: vamos em frente com versos e flores.

    Um abraço.

    Jorge

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