domingo, 5 de fevereiro de 2012

Presença

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto


Me tens aqui lutando
com secas palavras
para iluminar a treva
que nos reúne
em torno do lume
do poema

me tens aqui solidário
beirando a primavera
beirando os trintanos
com raros bens materiais
e nenhum privilégio
de credo ou classe

às vezes louco
às vezes patético
com poucos seres humanos
pra repartir
alguma coisa

me tens aqui poeta
num país injusto e sofrido
caminhando à beira de um rio

a sujeira flutua nas águas
os pobres equilibram-se
em perigosas palafitas

me tens aqui poeta lírico
cada dia mais lúcido

como a primavera
eu invado de repente
a sala adormecida
o coração desabitado

não tenho uma saída
para os dramas
que andam por aí

sequer possuo soluções
plausíveis
para os atrapalhos
cotidianos

o que posso oferecer
e ora ofereço
é essa canção discreta
para dissipar a sombra

um braçada de flores
no inverno

______

Do livro O Fazedor de Auroras, Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1990.

2 comentários:

  1. Adelar, esta braçada de flores em meio ao frio invernal é como um bálsamo para a alma cansada. Gosto muito deste poema e do livro de onde ele foi retirado. Vou fazer uma divulgação no Facebook para que outros possam conhecê-lo.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Um grande obrigado e um grande abraço, Ricardo.

    JF

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