Jorge Adelar Finatto
photo: jfinatto |
Como ele nunca teve pai para amar, sempre lhe pareceu que a coisa mais em falta no mundo não é dinheiro, nem ouro, nem diamante, nem qualquer outra coisa, mas um abraço de pai.
Quando menino, era difícil explicar aquela ausência para os outros de sua idade. Na rua e na escola, as pessoas faziam perguntas, cara de admiração. Não ter pai era mesmo que não ter um braço ou uma perna.
A sombra da esfinge o perseguiu pela vida. No dia dos pais, aniversários, natais, páscoas, reuniões da escola, fins de semana, noites e dias sem fim. A falta projetou-se nos seus sonhos e pesadelos.
Um dia descobriu, admirado, que muitas outras casas não tinham também a figura ausente. Só que muita gente escondia isso. Estranho: escondiam um ser que na realidade não existia. Ocultavam o mito. Alguns possuíam apenas uma deprimente figura paterna, que mais atrapalha que ajuda.
Um dia descobriu, admirado, que muitas outras casas não tinham também a figura ausente. Só que muita gente escondia isso. Estranho: escondiam um ser que na realidade não existia. Ocultavam o mito. Alguns possuíam apenas uma deprimente figura paterna, que mais atrapalha que ajuda.
Os sem pai já não eram exceção. Talvez fossem até maioria.
Ficou nele a idéia de que as mulheres, e não os homens, fazem o mundo funcionar. São pais e mães de seus filhos.
Na verdade não chegava a ser um consolo, mas a consciência de uma espécie de mutilação social. Sim, falta o pai afetivo em grande parte das famílias brasileiras. Às vezes, ele existe, mas é como se não existisse.
Por essas e por outras, uma parte da humanidade é toda seqüelada, ele pensava enquanto caminhava com o filho pela mão, na praça do bairro, na tarde de domingo.
Pra ele, agora, todo dia é dia dos pais.
___________
Texto revisto, publicado em 16 de maio, 2013.
Tocante, Adelar. Também figuro nesta categoria, pois perdi o pai bem cedo. É uma tarefa difícil, depois, construir toda uma vida, em meio às animosidades do meio. Mas, chegamos aqui. Abraço.
ResponderExcluirSobrevivemos, Ricardo! Aquele abraço.
ExcluirO material, do qual são feitos os poetas...
ResponderExcluirOs poetas vêm do pó e ao pó voltarão, como os mortais em geral. Mas tem que haver espírito! Um abraço.
Excluir