domingo, 16 de agosto de 2015

Aprendendo com pássaros

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto

 
Passei a tarde observando os pássaros. Eles aparecem na varanda do escritório, onde vêm comer as frutas que lhes sirvo todos os dias. Têm um especial apetite por bananas maduras, embora um mamão lhes caia muito bem ao paladar.

Voam desde as árvores e pegam o naco de fruta com o bico. Alguns comem ali mesmo, mas a maioria prefere levar pra casa. Muitos têm família e filhotes pra sustentar. A luta de sempre.
 
Uns agradecem o alimento fazendo um belo concerto a céu aberto.
 
Assim levamos nossa amizade. Às vezes, quando me canso de ser gente, viro pássaro. Fecho os olhos na escrivaninha e me lanço, abrindo as invisíveis asas. Misturo-me então a eles, fazendo parte dessa bela família.

Aprendo com os pássaros a renovar a fé na vida. Viver vale o voo. Viver vale o canto. Passeio entre as árvores e flores, respiro o azul do céu, descanso sobre velhos muros de pedra. Não quero saber de notícias. Como faz bem à alma e à saúde ignorar as notícias do mundo, os passarinhos me ensinam.
 
Nunca vi um pássaro roubar, nem mentir, nem matar, nem humilhar, nem falar mal dos outros.
 
As pessoas são boas por natureza, mas, por via das dúvidas, é sempre bom lembrar que ninguém é decente e digno por acaso. Por decente e digno entendo, antes de qualquer coisa, cultivar limites e não avançar feito fera sobre o semelhante.

Precisamos aprender com os passarinhos.

Tem de haver esforço, respeito, paciência, superação todos os dias. Senão, bem, o resultado é isto que vemos no Brasil.

Com a imagem, procuro o olhar do primeiro homem na aurora primitiva. A visão de um pássaro recém saído do ninho.

Sentir o mundo como da primeira vez.
 

2 comentários:

  1. Maravilhoso olhar o mundo depois do sono. A natureza depois da chuva. O trabalho por prazer. O amor ao alcance da mão. É o que me traduz esse texto tão bonito. Mas acho que, como eu, muitos temem comentar, pode-se não fazer justiça. Dificuldade de expressar. Melhor só passar a mão na moldura, devagar, e seguir caminho. Era só um quadro que alguém escreveu.

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  2. Li esse comentário com alegria e emoção. De vez em quando a gente acerta a mão no texto. O escrevinhador nunca sabe se tem algum valor aquele escrito. O teu retorno é muito significativo. A voz amiga em meio ao silêncio. Um abraço.

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