Jorge Finatto
É setembro, raro leitor (se é que você está mesmo aí do outro lado. Os tucanos, a julgar pelas caras e bocas, acham que sim).
É setembro e o jardim começa a florir e a cheirar seus cheiros de primavera. Eu sempre sonhei ter uma casa com um jardim para cultivar e admirar. Sei bem que toda ideia de propriedade, nesta vida, é uma abstração. Ninguém é dono de nada. Só os tolos.
Um dia comprei uma casa. Com grande sacrifício, como acontece com as pessoas que têm a ventura de ter um trabalho e a garantia do salário no fim do mês (uma graça divina, neste tempo em que 12 milhões de brasileiros estão tragicamente desempregados).
A casa tinha um jardim. Um sonho realizado. Os sonhos sempre precisam de outras pessoas que nos ajudam a torná-los realidade.
O mais bonito foi a forma como o casal proprietário do imóvel nos fez a transmissão. Na verdade, mais que a casa, nos entregaram o sentimento que nela viveram ao longo de anos.
O mais bonito foi a forma como o casal proprietário do imóvel nos fez a transmissão. Na verdade, mais que a casa, nos entregaram o sentimento que nela viveram ao longo de anos.
Numa carta dentro da pasta com os documentos, contaram o quanto tinham sido felizes ali. Num anexo, relacionaram todas as plantas e flores que haviam cultivado, com os nomes de cada uma e informações sobre como mantê-las. Disseram esperar, sinceramente, que fôssemos tão felizes quanto eles naquele ambiente.
Não foi uma simples compra e venda. Foi uma relação espiritualizada entre pessoas que sabem que tudo é transitório. Um dia transmitiremos nossos bens a outros, nos desfazendo de tudo.
Sairemos da vida tão nus como quando nela entramos. Despidos de toda matéria e vaidade. Levaremos talvez a recordação de um jardim e de uma casa que, por certo tempo, cultivamos e amamos.
Sairemos da vida tão nus como quando nela entramos. Despidos de toda matéria e vaidade. Levaremos talvez a recordação de um jardim e de uma casa que, por certo tempo, cultivamos e amamos.
Uma crônica lírica e ao mesmo tempo consciente.
ResponderExcluirTens razão, Adelar, só levamos nossas conquistas espirituais, as materiais ficam por aqui.
Abraço, neste setembro de frio extemporâneo.
Ricardo Mainieri
Estimado Ricardo. A bagagem seja leve para podermos viajar e conhecer outros lugares e seres sem o peso do passado. Um abraço. JF
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