terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Série Retratos 8



"A Catedral", escultura de Auguste Rodin (1840 - 1917)
Museu Rodin, Paris. photo: j.finatto



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Autor da photo: Jorge A. Finatto
Pedidos de cópia ou reprodução podem ser feitos ao autor pelo e-mail j.finatto@terra.com.br
 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tragédia de Santa Maria

Jorge Adelar Finatto

A dor diante do trágico acontecimento de Santa Maria é infinita. Manifesto minha solidariedade e profundo sentimento aos familiares e amigos dos que perderam a vida.
 

Mulheres escritoras

Jorge Adelar Finatto
 

Margaret Atwood. Foto do site oficial da escritora*


Estou lendo um livro muito interessante da escritora canadense Margaret Atwood, nascida na cidade de Ottawa em 1939. Trata-se de Buscas Curiosas**, conjunto de textos avulsos nos quais a autora aborda assuntos relacionados a sua experiência de escritora e leitora, desde a infância até a maturidade.

Os textos ocasionais, como os chama, foram escritos no período de 1970 a 2005.
 
Nunca tinha lido nada desta autora que é poeta, romancista, contista, ensaísta e roteirista. Entre suas premiações estão o Booker Prize de 2000 por O assassino cego e o Príncipe das Astúrias de 2008. Peguei o livro na estante da livraria levado pela intuição, gostei do título e da capa, li alguns trechos ao acaso (a força do acaso) e acabei comprando.

Não me arrependi. Margaret Atwood é uma escritora obstinada no seu trabalho e uma observadora que lança luzes generosas sobre aquilo que escreve.
 
Ela não mitifica o ato de escrever, tem uma visão realista do ofício. Ao mesmo tempo, é capaz de voar com as palavras e olhar o mundo lá do alto com ternura. Escreve simples e claro.
 
Chamou-me a atenção, entre outros, o texto Nove começos, em que fala sobre os problemas que as mulheres escritoras enfrentam diante de certa mentalidade preconceituosa. Diz ela:
 
"É preciso ter uma quantidade considerável de coragem para ser escritora, uma coragem quase física, do tipo que se precisa para atravessar um rio sobre troncos flutuando. (...)

Uma proporção de fracassos vem embutida no processo de escrever. A lata de lixo não evoluiu sem motivo. Pensem nela como o altar da Musa do Olvido, a quem você sacrifica seus primeiros rascunhos malsucedidos, as provas de sua imperfeiçao humana. Ela é a décima musa, aquela sem a qual nenhuma das outras pode funcionar. A dádiva que ela lhe oferece é a liberdade da segunda chance. Ou de tantas chances quantas você quiser arriscar."(pág. 167).

Nada como ouvir alguém que tem algo a dizer sobre a difícil condição do escritor e o faz de forma tão lúcida quanto inspirada. Margaret Atwood fala de verdades que se aplicam a mulheres, e também a homens, que se lançam no turbulento e belo caminho da escrita.

Agrada-me a sinceridade com que a escritora encara os mais diversos assuntos, discorrendo com desenvoltura a respeito de livros, autores e situações vividas. O livro prende a atenção e em nenhum momento se mostra pesado, pelo contrário, nos leva por paisagens variadas com profundidade e sutileza.

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*Margaret Atwood:
  http://www.margaretatwood.ca/index.php
 **Buscas Curiosas, Margaret Atwood. Tradução de Ana Deiró. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2009. 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Série Retratos 7 ( Colonia del Sacramento, Uruguai)




photo: j.finatto



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Autor da photo: Jorge A. Finatto
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sábado, 26 de janeiro de 2013

A aventura do flamingo cor-de-rosa

Jorge Adelar Finatto


Flamingo. Foto: Aaron Logan. Fonte: Wikipédia


O flamingo pousou na popa do veleiro quando passávamos pela Ilha do Barba Negra, na Lagoa dos Patos (que, àquela hora, brilhava sob o sol amarelo e intenso da tarde de fevereiro).

Pousou ao lado de Filipo, o papagaio marinheiro, que estava sentado e distraído na beira do barco, os olhinhos fechados, peito estufado respirando a brisa. Filipo deu um pulo de susto, o boné de marinheiro caiu na água. O flamingo recolheu-o com o bico.

Essas surpresas acontecem na vida de quem navega. Tínhamos saído para dar um giro com nosso veleiro Solitário, a fim de ver as belezas do rio, suas ilhas e pássaros. E também para ficar distante do ruído e do trânsito violento da cidade, da correria agressiva e sem sentido.

Filipo indagou do flamingo, na linguagem das aves, qual era seu nome e de onde vinha. Ele respondeu que se chamava Arquibaldo e que vinha de Amsterdam, sua cidade natal, na Holanda. Vivia com a família num barco abandonado num dos canais daquela bela cidade. Estava em viagem de férias com os pais e irmãos quando o inesperado aconteceu.
 
Amsterdam. photo: j.finatto
 
Na altura do arquipélago dos Açores, uma tempestade dispersou a família de flamingos e arremessou Arquibaldo em outra direção, separando-o do grupo. Depois de vencer o medo e a ventania, voou muito e pegou carona num navio. Acabou chegando ao sul do Brasil após vinte dias. Estava exausto e atordoado com os últimos acontecimentos.

Os flamingos, em geral, têm a plumagem cor-de-rosa. Em Arquibaldo essa cor é ainda mais viva, um rosa antigo belíssimo. Providenciamos uma boa alimentação e um bom descanso para nosso novo amigo.

Arquibaldo é um flamingo adolescente e observador, com bom humor e espírito de aventura. Sentiu-se tão bem que pretende ficar conosco até o final do verão, quando então regressará para junto de sua família na casa-barco de Amsterdam.

O peixinho Moisés, nosso companheiro de navegações, saltou do rio para o interior do barco e ficou dentro do balde conversando com Arquibaldo.

Na Ilha das Pedras Brancas, rumamos em direção ao Parque da Harmonia e, daí, para o velho cais de Porto Alegre, sempre ouvindo a incrível história do mais novo membro da tripulação.

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Mais aventuras do veleiro Solitário em:

Navegador de barco de papel
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2011/08/navegador-de-barco-de-papel.html

A volta do barco de papel
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2010/10/volta-do-barco-de-papel.html

Texto publicado em 10.02.2012.
 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Série Retratos 6



photo: j.finatto


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Autor da photo: Jorge A. Finatto
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O menino da água-furtada

Jorge Adelar Finatto
 

photo: j.finatto


O habitante da água-furtada sobrevive na memória de um sótão. Veja este álbum invisível que se abre como um segredo sobre a tela do computador.

Aqui está a casa velha de pinheiro, a parreira no quintal amadurecendo a uva moscatel, a janela aberta sobre o telhado para o Vale do Olhar,  a horta com seus aromas e gostos do passado, os pintos correndo no pátio ao lado da casa como pequenas bolas douradas.

O arroio atravessa o fundo do quintal, onde o menino molha a cabeça e os pés e depois se deita na margem, fecha os olhos e voa até as esferas celestes.

O arroio vem não se sabe de onde, passa pelo morador do oblívio e segue adiante, murmurante, risonho, leva os barcos de papel do menino mundo afora.

Hoje os mortos vieram visitar o menino, em silêncio sentaram-se em volta da mesa da sala diante dos retratos. Estavam com a cabeça baixa e sussurravam coisas caladas, suspiravam pelos dias vividos.

Os mortos vieram para o jantar na casa vazia. Depois foram desaparecendo lentamente, um a um, deixando um pó azul e branco no ar.

Os sonhos do menino não estão presos a nada. Em algum lugar bate o sino no meio da noite. O menino da água-furtada abre os olhos.

Tudo ainda tão vivo no coração.

Pedaços de seda coloridos pendurados nos galhos das árvores balançam ao vento.

A solidão descarnada das horas no sótão.