Jorge Finatto
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Joe Biden. photo: Reuters |
a vida de todos os dias, a que eu sempre quis {textos e imagens: Jorge Finatto}
Jorge Finatto
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Joe Biden. photo: Reuters |
Jorge Finatto
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photo: jfinatto |
Jorge Finatto
photo: jfinatto |
Jorge Finatto
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photos: jfinatto |
Omnia humana brevia et caduca sunt.*
Cultivarás o teu jardim.
Não cobiçarás o jardim do próximo.
Aprenderás que o jardim perfeito não existe, só na tua imaginação.
As flores que habitam teu jardim não te pertencem.
Elas nasceram para embelezar o mundo.
Não deixes que o orgulho de jardineiro te faça esquecer que o tempo das flores, como o teu, se esfuma entre os dedos.
O jardineiro amoroso cultiva beleza e perfume à margem da eternidade.
Aceita o outono e suas folhas secas, sem desespero nem remorso.
Sabe que tudo é transformação.
E a morte é só passagem para outros jardins.
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*As coisas humanas têm vida curta e são transitórias.
Jorge Finatto
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photo: jfinatto |
Não fiques justo demais, nem te mostres excessivamente sábio. Por que devias causar a ti mesmo a desolação? Eclesiastes 7:16
Começar a pensar é começar a ser atormentado.¹ Albert Camus
Pensar causa dor. Os caminhos do pensamento levam à desolação. Mas, sem ele, onde a alegria, a descoberta do mundo, a esperança, o êxtase? Talvez a fuga do desalento esteja em pensar com sentimento. Em outras palavras, pensar com o coração, sentir com o pensamento, como disse Fernando Pessoa. Ouçamos o poeta:
"Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica. Deus é toda a gente." ²
A razão solitária, isolada do sentir, é um lugar profundamente ermo. Uma paisagem vazia e inóspita. Um cálculo matemático, se feito com razão e sensibilidade, é muito mais belo. Olhemos as cores, formas e movimentos dos corpos celestes. Onde entra o sentimento nisso? Entra na motivação do olhar, naquilo que nos move a tentar compreender, nas razões e emoções que nos levam a pôr nossa força vital nessa direção.
A natureza está construída, em toda sua extensão e profundidade, sobre alicerces de ciência e beleza. Em toda coisa existente há um pensamento e um desejo que a precedem, a volúpia da criação. Quanto mais observo e reflito sobre a obra do mundo e da vida, mais admiro a mão de quem a concebeu. Deus é um artista perfeito e apaixonado pelo que faz e fez. E tem todos os motivos para isso.
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¹ O Mito de Sísifo. Albert Camus. Editora Record, 16ª ed. Tradução: Ari Roitman e Paulina Watch. pág. 19. Rio de Janeiro. 2019.
² http://arquivopessoa.net/textos/1709
Jorge Finatto
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do meu jardim. photo: jfinatto |
Uma das alegrias da minha infância eram os brinquedos caseiros. Brinquedos rústicos de criança pobre, feitos com materiais descartados. Não obstante humildes, nos levavam a viajar pelo cosmos, expandindo nosso universo.
O porão da velha casa de madeira, lá na Serra, não abrigava somente quinquilharias. Era uma oficina de brinquedos. O artesão desse mundo mágico, que transformava latas de azeite em belos carrinhos e caminhões, era o primo Nego (Rogério). Eu era auxiliar de feiticeiro.
De suas mãos saíam também carrinhos de lomba com rodas de rolimã (rolamentos de aço), cavalinhos, balanços pra pendurar no plátano à beira do Arroio Tega, arcos e flechas, pernas de pau, trenzinhos, espadas, escudos, revólveres, espingardas, bonecos, aviões. Tudo trabalhado com serrote, martelo, lima, formão, goiva, torno, lixa e pedaços de madeira que buscávamos na madeireira perto de casa.
Os brinquedos dos outros meninos e meninas da rua também eram caseiros, mas não se comparavam aos nossos (na nossa imodesta opinião).
Devia haver uma espécie de museu para esses brinquedos de antigamente. Cheios de imaginação e criatividade, povoavam de fantasia nossas brincadeiras e nos levavam além do mundo em preto e branco.
Jorge Finatto
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photo: Clara Finatto. Canela/RS |
Na tarde de neblina e frio desta instável primavera, o beija-flor cisma.
Pensando na vidinha, no galho pensador, ele faz uma pausa. Que ninguém é de ferro.
Fica um tempo, dá uma saída e depois volta. Não se incomoda que o observem da janela. Tampouco que abelhudos lhe façam fotos. Há um pote com líquido de néctar no galho ao lado que muito o agrada. E não só a ele: tem irmãos ou amigos que vêm ali toda hora todos os dias.
No que estará pensando?
Há de ter lá os seus compromissos o beija-flor, uma casa pra voltar, filhos pra criar, contas a pagar, preocupações de quem vive neste mundo de Deus.
Mas, nesse momento, ele precisa ficar sozinho e em silêncio. Precisa disso pra saber quem ele é.
Porque, às vezes, na dura faina da sobrevivência, a gente esquece quem é.