Jorge Adelar Finatto
O mundo é um hospício sem muro. Estão todos soltos. A loucura é herança bem dividida entre os humanos. As partilhas registradas nos livros do existir. A pessoa precisa ter reservas de luz pra suportar tanta escuridão.
Somos os que estão por aí. Os por enquanto. A gente mói e é moído. O que acha? O moinho triste da vida. Tem ser vivente que passa a existência sem receber um afago, um ora-veja. Os que. Pra eles não existe vem-cá-meu-bem. Só pedra, pedras.
O mundo não presta atenção nos sem-afeto. Os esquecidos jazem no fundão. Os outros, quando muito, vivem pra si. Os que se acham. As almas duras. Corações secos.
O moinho pesado gira no escuro. Caminho de sombras.
Às vezes um resolve resilir o contrato com o eterno. Quase ninguém nota o último ato do infeliz. Nenhuma flor se colhe em sua difícil memória. Nenhum pensamento. As indiferenças. Os giros insensíveis da roda de fazer pó e esquecimento.
Viver são uns suspiros. Alguns poucos levam a lanterna na mão. Esses, ao menos, ainda choram, se comovem, não se conformam, lutam, amam. Fazem os caminhos. Por eles a aurora tece os fios rosados do amanhecer.
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Foto: J. Finatto. Folhas de plátano em Passo dos Ausentes.
Esta tua prosa, carregada de poesia, verte sentimentos a cada linha lida.
ResponderExcluirEste mundo está mesmo vazio de afetos, Adelar. As pessoas tem medo de se encontrar, e não estamos nos Anos de Chumbo.
Lembro-me de uma menina linda que namorei(ela era escritora e artesã)que me disse uma frase profunda, do alto de seus 23 anos: "Meu corpo é de fácil acesso/difícil é conquistar minha alma".
Nos poetas, felizmente, temos este dom de partilhar. E vamos dividindo nossas asperezas & belezas com todos, indistintamente.
Continuemos nestas trilha.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Caro Ricardo,
ResponderExcluirmuito rico teu texto, pra variar.
Sobre o que disse a ex-namorada, lembro dos versos de Manuel Bandeira, em Arte de Amar:
"Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não".
Um abraço.
JAF