Jorge Adelar Finatto
Bernardo, eremita, foi morar no interior do búzio faz muito tempo. Conversa com os peixes. Caminha no jardim das anêmonas. O búzio onde vive fica na flor dágua, é uma espécie de ilha, tem vista ampla, mas é pouco poroso e, de tão velho, guarda ainda as impressões digitais do Criador.
As gaivotas bailam no ar azul da manhã, nesses começos de setembro. De boné branco, astrolábio e telescópio, Bernardo descortina os quatro horizontes. Faz silêncio na ilha. Só se ouvem as ondas. O vento austral estufa a camisa, espalha os brancos cabelos.
Bernardo sai pouco a navegar no pequeno barco de madeira. Só ele e os bichos vivem ali. Costuma remar de vez em quando em volta do búzio, margeando as palmeiras e falésias. Faz parte do seu cotidiano conversar consigo mesmo. Estranho, tem dias que resolve dizer a si o que pensa de certas coisas e acaba ouvindo o que não quer.
Longe da ilha tem um farol pintado de branco e vermelho. Nunca foi até lá, mas admira a persistente luta do faroleiro contra a escuridão. Bernardo queria ter essa força também.
Solitário, pensa: quem sabe um dia descubro alguém pra partilhar a vida?
As gaivotas sobrevoam a ilha. Às vezes, ele sonha viajar até o continente. Talvez saindo da concha encontrará a moça do cabelo preto escorrido e do vestido floreado. Mas já se passaram vinte e cinco anos. Em que coral, em que ilha distante viverá a moça do vestido floreado?
A maré sobe, os peixes nadam em festa à flor do arrecife. Bernardo recolhe os instrumentos e retira-se com o boné branco para o interior da côncava morada. A música primitiva do vento sopra nas trompas do búzio.
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Foto: J. Finatto
As gaivotas bailam no ar azul da manhã, nesses começos de setembro. De boné branco, astrolábio e telescópio, Bernardo descortina os quatro horizontes. Faz silêncio na ilha. Só se ouvem as ondas. O vento austral estufa a camisa, espalha os brancos cabelos.
Bernardo sai pouco a navegar no pequeno barco de madeira. Só ele e os bichos vivem ali. Costuma remar de vez em quando em volta do búzio, margeando as palmeiras e falésias. Faz parte do seu cotidiano conversar consigo mesmo. Estranho, tem dias que resolve dizer a si o que pensa de certas coisas e acaba ouvindo o que não quer.
Longe da ilha tem um farol pintado de branco e vermelho. Nunca foi até lá, mas admira a persistente luta do faroleiro contra a escuridão. Bernardo queria ter essa força também.
Solitário, pensa: quem sabe um dia descubro alguém pra partilhar a vida?
As gaivotas sobrevoam a ilha. Às vezes, ele sonha viajar até o continente. Talvez saindo da concha encontrará a moça do cabelo preto escorrido e do vestido floreado. Mas já se passaram vinte e cinco anos. Em que coral, em que ilha distante viverá a moça do vestido floreado?
A maré sobe, os peixes nadam em festa à flor do arrecife. Bernardo recolhe os instrumentos e retira-se com o boné branco para o interior da côncava morada. A música primitiva do vento sopra nas trompas do búzio.
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Foto: J. Finatto
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