quarta-feira, 27 de maio de 2015

A barbárie nossa de cada dia

Jorge Adelar Finatto

Estação Hidráulica Moinhos de Vento. P.Alegre.  photo: jfinatto
 

A barbárie invadiu nossas vidas. A sociedade brasileira se habituou ao sangue derramado.

As agressões e assassinatos acontecem a toda hora nas ruas do país. A tragédia virou rotina nas páginas dos jornais, já não causa espanto. Virou fato normal e nada se faz para dar um basta na situação.

As desculpas são sempre as mesmas: faltam recursos para o combate ao crime, para construir prisões decentes, para a saúde, para a educação, para a moradia, para as creches, para o transporte, para o saneamento, para a alimentação, para o emprego, para a cultura, para os espaços de lazer e convivência. Mas curiosamente sobram - e como sobram! - recursos para a corrupção e a gestão temerária.

Ninguém se importa verdadeiramente, enquanto não acontece com alguém próximo. Acredita-se - ou finge-se acreditar - que a desgraça deve ser enfrentada como sendo algo pessoal. Não é.
 
A nossa capacidade de indiferença ultrapassou todos os limites. Vivemos uma realidade doentiamente individualista, escondidos atrás de grades e sistemas de segurança que nada resolvem.

Cada um recolhido no seu casulo de silêncio e medo, pouco se importando com o que acontece ao vizinho. É melhor nem saber.
 
O espaço público virou território de bandidos. À solta e agindo livremente, eles são os donos das nossas cidades. São eles que, de fato, governam dentro de suas leis próprias e de seus códigos perversos.
 
Os maus exemplos de conduta, que induzem todo o processo, vêm desde os mais altos escalões da vida nacional. A inexistência de um projeto de nação responsável, humano e solidário está levando o país à autofagia. O Brasil está se destruindo assustadoramente.

Enquanto isso, vende-se a ideia de que a vida vai melhorar com ajustes na economia, o que é uma visão distorcida das coisas. A vida do brasileiro só irá melhorar com educação que permita a construção de valores. Não é só uma questão de melhorar os números da economia, mas, antes e acima de tudo, de formar consciências.

Os bilhões e bilhões manejados pela corrupção demonstram que o problema primacial do Brasil está longe de ser a crise econômica, esta simples consequência dos desmandos. É, isto sim, a falta de competência, respeito e honestidade na administração do patrimônio público.

Reduzir os impasses do país, como se está tentando fazer, à mera questão econômica é, no mínimo, subestimar o poder de percepção, a inteligência e o sofrimento do povo.

A ausência de responsabilidade social e a indiferença pelo bem comum abriram as portas à selvageria e explodiram qualquer ideia de vida em sociedade em nosso país.

Teoricamente, vivemos todas as liberdades democráticas. Na prática, porém, nunca a vida foi tão agredida e desprezada.

Esta é a terrível herança que estamos construindo.
 

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