quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

As últimas cores

Jorge Adelar Finatto 
 
photo: j.finatto, 24.01.2014
 

No itinerário que faço durante a caminhada polifônica, há sempre uma claridade que me faz parar na beira do caminho. É uma hortênsia que reúne na sua floração diversas cores e texturas. Há anos que a observo durante os meses de verão.

Paro para olhá-la de perto e sempre a fotografo, impressionado com sua exuberância. Como quem quisesse proteger contra o esquecimento imagem tão bela.

Não conheço outra hortênsia com tal diversidade e luminosidade.
 
A sua pintura se compõe e decompõe em inumeráveis tons, dos quentes aos frios, ao longo do período que começa lá por novembro e vem até finais de fevereiro. Sempre variando nas tintas.

Não resisti e fotografei-a mais uma vez em busca dessas que são, provavelmente, as últimas composições de sua mágica paleta. Essas photos testemunham as cores finais que ela emite nesse verão.

photo: j.finatto, 24.01.2014

Em breve ficarei sem essa beleza na beira do caminho. 
 
Mesmo agora, no momento em que se despede para hibernar por muitos meses (tempo no qual vai fabricar novas tintas), a hortênsia não priva o caminhante dos seus derradeiros instantes de beleza. Faz ainda o seu melhor. Um exemplo para nós.

A hortênsia, no seu encanto humilde e sereno, é só visão e dádiva.

photo: j.finatto, 24.01.2014
 
 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A biblioteca é um refúgio

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto, 23.01.2014

 
A biblioteca é um bosque onde me refugio quando a barra da realidade pesa. Isto acontece quase todos os dias do ano. Por essa razão é um lugar que estimo tanto. Tenho uma relação de afeto com meus livros.
 
A minha não é, contudo, uma biblioteca de bibliófilo. Embora eu faça parte de uma confraria de bibliófilos (que edita preciosidades literárias, quatro obras por ano), a minha biblioteca é uma oficina de trabalho, não é um relicário e menos ainda um santuário.
 
Os livros são feitos por mãos humanas e por isso são imperfeitos e belos. Nada mais artificial do que estabelecer com eles alguma solenidade. A única solenidade que os livros reclamam é a leitura.

Não trato os volumes por vossa excelência, mas por tu, como deve acontecer entre amigos.
 
Escrevo e sublinho nas páginas sem nenhuma culpa. E é possível encontrar exemplares em mais de uma peça da casa por onde estive ao longo do dia ou da noite.
 
Cada um tem um jeito de ficar sozinho. O meu é com um livro na mão.
 
Passei o domingo de chuva na biblioteca. Arrumei os livros que trouxe da viagem. Uma mala pesada com obras não editadas no Brasil. Referi os nomes de alguns dos autores aqui esses dias.
 
Não é tarefa fácil acomodar novos livros entre os antigos. Tive que dar uma boa mexida nas estantes. Novos personagens e escritores se incorporaram ao pequeno acervo, trazendo sua cálida existência e sua claridade.

photo: j.finatto, 23.01.2014

 
Tenho uma ligação emocional com meus livros. Não vou dizer que não tenho um forte sentimento de posse em relação a eles. De modo que não fico exatamente tranqüilo quando me levam uma obra por empréstimo. Dependendo do livro, fico mesmo com o coração na mão. Mas recebo poucos pedidos.
 
De tempos em tempos faço uma revisão e avalio quais são os livros imprescindíveis. Isto é, aqueles que levarei para a ilha deserta quando, desiludido da vida, partir para lá um dia. Os que não se enquadram nessa categoria costumo dar.
 
É uma maneira de fazer a literatura circular, além de não afundar a casa em livros. Um livro que para mim não é tão interessante, para outra pessoa pode ser uma dádiva espiritual.
 
De resto, não me iludo com a posse de qualquer coisa nessa vida. Não somos donos de nada. Temos apenas a posse precária e transitória de algumas coisas materiais. Dia mais, dia menos, trocam de mãos.

Só nos pertence aquilo que levamos dentro da alma.*
 
Enquanto arrumava as estantes, nos intervalos li História do sábio fechado na sua biblioteca, de Manuel António Pina (Assírio & Alvim, Lisboa, março de 2009). Um pequeno livro de 60 páginas, ricamente ilustrado por Ilda David, que conserva ainda um gostoso cheiro de tinta. Trata-se de uma bonita história que lembra uma fábula na maneira de contar.
 
Com o talento que Deus lhe deu (por certo teve que trabalhar muito para trazê-lo à luz**), Pina escreve coisas assim no seu livro:
 
Como sabia todas as coisas (o sábio) e não tinha nada de novo para saber e conhecer, a sua vida era muito triste e desinteressante. Era uma vida sem espanto, onde nada de novo e surpreendente acontecia e todos os dias eram iguais a todos os dias. Mesmo coisas tão estranhas e misteriosas, como, por exemplo, os cortinados do quarto agitando-se, à noite, ou os móveis rangendo como se falassem uns com os outros, não tinham para ele qualquer mistério. (p. 10) 
 
Este livro já faz parte da relação dos imprescindíveis.

____________

*A respeito de possessões imateriais, vale a pena ler Um poema de Chagall, em tradução de Manuel Bandeira, em sua Antologia Poética, Livaria José Olympio Editora,  sétima edição, Rio de Janeiro, 1974. "Só é meu o país que trago dentro da alma."
**Eugénio de Andrade:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/06/eugenio-de-andrade.html
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Evocação de Rilke

Jorge Adelar Finatto
 
 
photo: j.finatto, 27.01.2014. Rarogne, Suíça


Quem tomará a minha mão
na noite de vermes
quando o asco me derruba
feito cão pela esquina

quem de coração amigo
chegará para beber a gota
de ternura estrangulada

quem me chamará de irmão
na dor imensa
quando o medo me acerta
com suas espadas de fogo


________________

Poema do livro Claridade, Jorge A. Finatto. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1983.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Viver com medo

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto


Um empresário português do ramo de restaurantes contou-me, em Lisboa, que viveu durante 20 anos no Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro com apenas um dólar, ficou pouco tempo em casa de parentes e em seguida começou a trabalhar no setor de panificação, num bairro carioca da zona sul. Trabalhou duro, acabou construindo sua própria empresa. Progrediu, constituiu família, sentia-se feliz.
 
Um dia bandidos entraram no seu estabelecimento, encostaram o revólver na sua cabeça, ameaçaram matá-lo e levaram todo o dinheiro. Disseram-lhe para não fazer alarde do roubo, pois conheciam bem a ele, a mulher e os filhos. Coisas piores poderiam acontecer.

Naquele dia tomou a decisão de ir embora do Brasil. Disse-me que não poderia viver com medo. Hoje é proprietário de um bom restaurante na Praça do Comércio, à beira do Tejo, que freqüento quando estou em Lisboa.
 
- Não existe coisa mais terrível do que viver com medo. Jamais poderia me adaptar a uma situação como essa. Preferi deixar tudo para trás, recomeçar do zero.
 
Entendo o que ele sentiu. Nas grandes cidades brasileiras, e mesmo nas médias, vive-se com medo. A violência está fora de controle. Latrocínios, assassinatos, roubos, furtos, estelionatos, tráfico de drogas, maus-tratos, etc., acontecem a todo momento. Pra não falar da criminalidade no trânsito com grande número de vítimas fatais e mutilados.*
 
Vivemos com medo no Brasil. Experimente sair à noite pelas ruas de Porto Alegre e ficará surpreso ao ver que pouca gente ocupa os espaços públicos, como parques, praças, calçadas, passeios (falamos de uma cidade com 1 milhão e 400 mil habitantes). Motivo: medo do bandido, do assalto, do tiro, do estupro, de ser mais uma vítima. Falei à noite, mas de dia a preocupação com a violência também é constante.

O que faz com que os criminosos ajam com tanta desenvoltura? Eles contam com a impunidade, sabem que têm muitas chances de que nada lhes aconteça. O índice de responsabilização penal é muito baixo entre nós.
 
As autoridades policiais trabalham no limite de suas forças, com muito pouca estrutura, pouco pessoal, pouco investimento. Os criminosos contam com  isso. As investigações recaem sobre os delitos mais graves. Daí que muitas pessoas simplesmente não registram as violências que sofrem, porque sabem que dificilmente serão apuradas. Há desta forma um buraco na estatística da criminalidade.
 
Os magistrados que atuam na área penal convivem com a absurda situação dos estabelecimentos penais superlotados, que não oferecem condições mínimas de encarceramento e ressocialização. Porto Alegre tem hoje o maior e pior presídio do Brasil, o Central, com mais de 4 mil presos onde caberiam no máximo 2 mil.

As péssimas condições já foram denunciadas à Corte Interamericana de Direitos Humanos, tribunal da Organização dos Estados Americanos, que está cobrando ações práticas das autoridades. Encarceramento em condições sub-humanas só gera mais violência, mais crimes e mais desumanização.
 
Os governantes conhecem os problemas. No entanto, o que fazem para alterar este cenário - quando fazem - é muito pouco. A realidade não muda, pelo contrário, se reproduz.

Teremos neste ano a Copa do Mundo de Futebol e o ambiente é este. Estão havendo gastos públicos exorbitantes para este evento que é um luxo que o Brasil não poderia se dar. E logo depois, em 2016, vêm os Jogos Olímpicos, outra aventura que vai custar muito caro.

Enquanto isso faltam recursos para obras essenciais em serviços de saúde, segurança, educação, transportes, moradia, infraestrutura e por aí vai. 
 
É necessário lucidez e um grande esforço para transformar esse triste panorama. E tudo começa na cabeça e no sentimento das pessoas.

Padecemos no paraíso, raro leitor. Num estado e num país de imensas possibilidades humanas e naturais. Mas precisamos estar à altura desse patrimônio. 

______________

*Dados oficiais divulgados pelo Governo do Estado na terça-feira, 18/02, revelam que em 2013 morreram nas estradas e ruas do Rio Grande do Sul 1984 pessoas, contra 2091 mortes em 2012.
 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A viagem na viagem

Jorge Adelar Finatto
 
cegonha saindo do ninho. Salamanca, Espanha. photo: j.finatto

Quando o caderno de viagem está completo e não há mais espaço para escrever uma só palavra, é sinal de que a travessia está no fim. É hora de voltar. Cumpriu-se o tempo de vôo e de paisagens vistas da janela.
 
As mais de três mil photos enchem o computador. As duas malas estão cheias de livros. Um mês passou voando. Meu prazo de validade para quartos de hotel, estações de trem, aeroportos, check-in, check-out, táxis, chegou ao limite.
 
É preciso, como a ave, ao ninho regressar. E de lá continuar a viagem.
 
Para mim Portugal é sempre porta de entrada e de saída da Europa (sim, o velho e combalido continente que a senhora Angela Dorothea Merkel, no melhor e no pior estilo germânico de ser, conduz com mãos e garras de aço).

Cada vez mais vivo esta verdade clara como o sol, que Fernando nos revelou no seu Livro do Desassossego: a nossa pátria é a língua portuguesa.
 
Quiseram os fados que o único país da América a falar português fosse o Brasil. Somos um estranho país americano. Poderia ter sido o espanhol, o holandês, o francês, o inglês. Mas não.

A árvore plural, colorida, cheia de referências culturais e étnicas que é o Brasil, escolheu a língua de Camões para ser.
 
Operou-se entre nós o milagre da unificação do imenso território em torno de uma única língua, essa que nos lambe desde o berço: o português.
 
Desde o mais remoto povoado amazônico até a rua mais erma da pequena cidade do Chuí, no extremo sul do Rio Grande do Sul, entrando no Uruguai, temos o mesmo idioma.
 
A árvore não pára de botar ramos, folhas, flores, frutos e espinhos. País formado por índios, colonizadores e imigrantes, muitos guardam ainda a memória de outras línguas, outros falares. Mas o português é a pátria de todos.
 
O Brasil continente pensa, sente, escuta, fala, lê e escreve português desde 1500. 200 milhões de almas nas pegadas do Padre Vieira e de Guimarães Rosa.

O que nos falta talvez é dar as mãos aos países lusófonos - todos darem-se as mãos - para juntos alcançarmos uma projeção econômica e cultural única no mundo. Naturalmente, sem essa bobagem de acordo ortográfico, que mais nos separa do que nos aproxima.

Deus nos livre da síndrome da mesquinharia, da inveja, do ciúme e da vileza cultural entre nossos países, e do abismo do grande umbigo, buraco negro das augustas vaidades que corrompem a nossa "mátria" comum.

Ando mesmo com saudade de ouvir Baden Powell tocando seu violão, dedilhando maravilhas como Pastorinhas, Inquietação, Molambo, Dora e todo o resto.¹  Ando mesmo precisado de caminhar pelas ruas escondidas de Passo dos Ausentes.
 
É hora de voltar, raro leitor. E começar outra viagem. A viagem na viagem.

A hora do antropófago, da deglutição de tudo o que foi visto, percebido, sentido. Tempo da intuição, da elaboração, da criação.

O eterno retorno ao pajé Oswald de Andrade.² 
_____________

¹Disco Lembranças, ano 2000.
²Manifesto Antropófago, 1928. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Livros perdidos e achados

Jorge Adelar Finatto
 
photo: Eugénio de Castro


Fiz uma relação de livros de escritores portugueses antes de sair do Brasil. São obras que não encontro na Terra de Vera Cruz.  Achei quase todos, com duas exceções. Lisboa, livro de bordo (crônicas, 1997), de José Cardoso Pires (1925-1998), e Constança (poesia, 1900), de Eugénio de Castro (1869-1944).
 
Percorri cerca de 20 livrarias e alfarrabistas, entre o Porto e Lisboa, e nada. Na terça passada encerrei a busca visitando velhos alfarrabistas do Bairro Alto. A resposta foi a mesma: não existem mais.
 
Esses livros não podem faltar na livrarias.

photo: José Cardoso Pires

A Lisboa de Cardoso Pires é a cidade vista a partir da alma do grande escritor, capaz de traçar notáveis sínteses em poucas linhas com seu olhar penetrante e sensível.
 
Constança foi uma indicação de Don Miguel de Unamuno quando li, ainda em Salamanca, o seu Por tierras de Portugal y de España.* Diz o genial e valoroso filósofo espanhol:
 
Portugal parece a pátria dos amores tristes e dos grandes naufrágios.
 
(...) nenhuma obra (de Eugénio de Castro), a meu entender, e sobretudo a meu sentir, sobrepuja Constança, publicada em 1900. Constança é sua obra mais profundamente portuguesa, aquela em que sua alma conseguiu vibrar mais em uníssono com a alma de seu povo. É como se sua mão ao escrevê-la se houvesse convertido na arpa eólica de seu povo, vibrando ao sopro da alma deste. A lírica de Constança é a mais alta e mais nobre lírica, aquela que, sendo profundamente coletiva, é, por isso mesmo, profundamente pessoal.
 
Constança foi a mulher do infante D. Pedro, aquele da infeliz Inês de Castro, cujos trágicos amores imortalizou Camões.

Vindas de Don Miguel, imaginem o significado destas palavras.

Aí estão as duas sentidas faltas na mala dos portugueses que levarei comigo.

Manuel António Pina. Wikipédia

Nunca entendi por que estamos tão distantes da literatura e da cultura dos países de língua portuguesa. Vivemos no Brasil uma espécie de isolamento dentro da lusofonia.

Autores como José Saramago, Mia Couto e, depois, António Lobo Antunes começaram a desembarcar em terras brasileiras nos últimos anos. É muito pouco diante da pluralidade de autores lusófonos.

Em Portugal, percebo que há também um distanciamento do Brasil, pouco se conhece.

Estou levando a mala pesada de livros, mas o esforço compensa. Entre outros, levo comigo Lobo Antunes, Alexandre O'Neill, Eugénio de Andrade, Agostinho da Silva, Herberto Hélder, Maria Gabriela Llansol, J. Cardoso Pires, Fernando Pessoa, J. Saramago, Maria Velho da Costa, Ruy Belo, Vitorino Nemésio, Manuel António Pina, Eduardo Salavisa.

Na Suíça consegui encontrar as obras de Rilke que perseguia. Em Madri, completei a biblioteca básica de Ortega y Gasset, graças à generosidade da Fundação Ortega y Gasset que me repassou, sem cobrar por isso, volumes fundamentais do filósofo.

Dos espanhóis tratarei em texto próprio. Os discos também merecem um post à parte.

De que vale, afinal, uma viagem, se não for para procurar aquilo que nos faz falta em nossa paisagem espiritual?  
_____________

*Por tierras de Portugal y de España, Miguel de Unamuno, Biblioteca Unamuno, Alianza Editorial, Madrid, 2011. Tradução do trecho acima: J. Finatto.
 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Pastéis de Belém, Farta Brutos, marialva, etc.

Jorge Adelar Finatto
 
mapa no Museu da Marinha, Lisboa. photo: j.finatto

A tarde de chuva me levou ao bairro de Belém, em Lisboa, para degustar mais uma vez os famosos Pastéis de Belém e beber a costumeira taça de café com leite. Como sempre, a casa estava muito movimentada. Como sempre, o atendimento é dos melhores. Turistas de vários países, a malta brasileira em bom número.
 
Os Pastéis de Belém só se encontram neste lugar, em nenhum outro, assegura o funcionário. O que se vende nas outras pastelarias são pastéis de nata, esclarece, sem desfazer deles. São diferentes apenas. Eu acho os de Belém mais refinados.

photo: j.finatto, 12.02.2014
 
Caminhei, depois, à extensão do Mosteiro dos Jerônimos onde estão os restos mortais de Fernando Pessoa, Vasco da Gama e outros grandes da história portuguesa. Fui em direção ao Museu da Marinha, que visitei há quase um mês.
 
A exposição de barcos verdadeiros, muitos deles históricos, fez a minha alegria de bicho das águas. Voltei hoje pra procurar uma lembrança na lojinha náutica que existe ali ao lado. Encontrei um pequeno sino dourado de convés de navio que vai para o convés do meu escritório em Passo dos Ausentes.

Na segunda-feira jantávamos com amigos portugueses no Farta Brutos, restaurante de cozinha tradicional portuguesa do Bairro Alto. Entre os freqüentadores históricos, Jorge Amado, José Cardoso Pires, José Saramago, só pra mencionar alguns. Sentamo-nos à mesa preferida de Saramago, na qual existe uma placa recordando o freguês ilustre.

Farta Brutos. photo: j.finatto, 10.02.2014

A conversa ia animada com garfadas no prato de bacalhau, o vinho tinto celestial (cujo nome não sei porque foi escolha do amigo, me distraí e não reparei no rótulo). Até que ao falar em livros, literatura, escritores, pintores, fadistas, etc., surgiu no meio a palavra marialva, que esses ouvidos nunca tinham ouvido. Fulano era um marialva, alguém disse.
 
Pelo rumo da prosa, marialva é o indivíduo namorador, rabo-de-saia, amigo da noite, boêmio. Não é uma delícia?

Um dado interessante mencionado por Francisco Oliveira, proprietário do restaurante. Aquele edifício foi um dos que escaparam da destruição durante o grande terremoto que destruiu parte de Lisboa em 1º de novembro de 1755.
 
Uma notícia de hoje, mais uma que ilustra a crise que o país atravessa: 21 licenciados moram nas ruas de Lisboa. Gente que fez curso universitário e não encontra saídas (profissional, pessoal). É duro.
 
O mundo dos grandes navegadores portugueses era pequeno e se conquistava numa caravela.

Hoje é infinito e ninguém se entende. 
___________

O barbeiro de Fernando Pessoa:
http://ofazedordeauroras.blogspot.pt/2011/03/o-barbeiro-de-fernando-pessoa.html