A arte de navegar em barco de papel é tão antiga quanto a humanidade.
Um menino de oito anos pergunta, através de e-mail, como pode alguém com o meu tamanho se aventurar em barco de papel pelo Rio Guaíba.
A perplexidade surge a propósito do que escrevi aqui nos posts dos dias 23 de março e 02 de janeiro deste ano. Miguel Antônio ficou deveras impressionado.
- Como isso é possível? Eu também faço barcos de papel, mas, se quiser entrar neles, ficam destruídos na hora – pondera meu novo amigo.
Estou feliz por ver que esse assunto desperta sua atenção. De fato, poucas pessoas se dedicam a esse belo ofício naval.
Os meninos e as meninas costumam navegar até certa idade. Depois crescem, tornam-se adultos e esquecem.
Com a passagem do tempo, as pessoas vão desistindo das aventuras e dos sonhos.
Sou um velho marinheiro de barco de papel.
Felizmente, não esqueci como se faz isso. Por essa razão, quase não tenho com quem conversar.
O papagaio Filipo é meu companheiro de navegação. Ele vem do bosque onde vive, vestindo o boné e a jaqueta de marujo. Moisés, o peixinho que nada ao lado da nossa minúscula embarcação, também faz parte da tripulação.
Faço a estrutura do barquinho com um papel muito branco, depois pinto o casco, o timão, a âncora e a vela. Tomo cuidado para fixar bem as dobras, para não deixar a água entrar. Coloco apenas as coisas essenciais na cabine, porque o espaço é muito reduzido, tudo num barco de papel é muito pequeno.
Levo-o para a beira do rio. Empurro-o na água e dou um pulo para dentro. Vamos nós!
Não consigo explicar, só com palavras, como isso acontece. O fato é que é assim.
O que eu sei é que só me sinto feliz, de verdade, quando entro no meu barquinho Solitário - esse é seu nome - e saio pelo Guaíba afora, deixando pra trás a cidade, as tristezas e os medos.
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Ilustrações: Maria Izabel Schissi
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