Jorge Adelar Finatto
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photos: j.finatto |
O nome parece de personagem de desenho animado, mas é de um vulcão. Nos últimos tempos, o chileno Puyehue (tem que pronunciar com calma pra não enrolar a língua) deu pra ferver, grunhir, bufar e expelir fogo, rochas, gases e cinzas, mercê das intensas atividades intestinas que o acometem (problemas digestivos, possivelmente).
Na segunda-feira (17/10), interrompi a lida no escritório, no meio da tarde, para observar o Vale do Olhar. É um suave descanso que ameniza o peso e a solidão da faina. Fiquei surpreso ao ver uma claridade opaca que vinha do céu e se espalhava sobre as montanhas.
Uma espécie de cerração tomou conta do espaço, mas não era nevoeiro. Dali a pouco, os telhados e ruas se cobriam com cinzas.
As condições atmosféricas peculiaríssimas de Passo dos Ausentes fazem deste lugar um território à parte no mundo. Às vezes, neva em pleno verão. Dias de primavera costumam florescer no inverno. Isso sem falar da bruma espessa e persistente, que definiu, aliás, o gentílico de quem nasce aqui: Neblinense.
Ainda sem saber do que se tratava, resolvi fotografar o evento nubiloso. O resultado são estas imagens. Mais tarde, levei as fotos até o Café da Ausência, na estação de trem abandonada da cidade, para mostrar aos amigos durante o nosso costumeiro cappuccino com graspa, de fim de tarde.
Palomar Boavista, astrônomo e pesquisador de fatos do clima, esclareceu a todos que aquilo eram nuvens de cinza que nos visitavam, provenientes do vulcão chileno, após voar milhares de quilômetros, conforme a direção dos ventos.
As nuvens de cinza agora começam a se dissipar, mas não totalmente. Sonhamos com a chuva para nos valer, limpando a atmosfera. Queremos de volta a boa e poética neblina molhada.
Ultimamente, sentimos gosto de cinza até na alma.