domingo, 9 de junho de 2013

O postigo de Deus

Jorge Adelar Finatto 

photo: j.finatto

 
As manhãs amadurecem no coração da treva.
 
Como pode alguém tão pequeno querer voar tão longe, sonhar tão alto?

Em meio a portulanos e cartapácios, Claudionor, o Anacoreta, alimenta o sonho.

A quimera do grande encontro o habita.
 
Ah, as horas passadas entre os livros na caverna, no Contraforte dos Capuchinhos. A cela espiritual onde ele se retira em torno da vetusta mesa, viajando nas páginas, no telescópio, na bruma de estrelas.
 
Ah, as travessias desoladas pelo invisível. Os altos vôos onde ele se queda a duvidar.
 
As místicas visões o perseguem desde menino nestes Campos de Cima do Esquecimento.

A mirada do infinito saber, a vertigem do pensar, a busca da unidade com o cosmos. Não ser apenas mais um estrangeiro no universo.

Os mistérios do vir-a-ser. O terrível peso do aqui e agora. As fomes do corpo.

Um dia - Claudionor bem sabe - a face de Deus iluminará o postigo e ele então  irá embora da caverna para a casa dEle. Então tudo o mais será pó de luz iluminando a estrada.

Por enquanto, o trevamundo. Escuridão a galope pelo mundo. Coração pulsando no oblívio.

Urgentes prosopopéias o ajudam a povoar o silêncio, a construir o neblinoso itinerário.

Ah, as solitárias caminhadas pela Rua do Farelo, em Passo dos Ausentes.

Prisioneiro do efêmero, Claudionor se lança na antieternidade do instante fugaz.

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Claudionor, o Anacoreta, é místico e astrônomo amador. Vive numa caverna no Contraforte dos Capuchinhos, em Passo dos Ausentes
Texto revisto, publicado antes em 09 de março, 2011.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A estação de trem de Passo dos Ausentes

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto

 
O trem está imóvel na gare deserta. Por ali os passageiros são fantasmas. De vez em quando o apito perdido da locomotiva pode ser ouvido no oco da madrugada. O roçar do vento nas folhas dos plátanos envolve o lugar. A solidão monta guarda na estação abandonada. Nenhum bulício de viagem, nenhuma respiração. Silêncio.
Juan Niebla, 85 anos, ocupa  o banco de peroba cor-de-rosa na plataforma, diante do terceiro vagão, e toca seu bandoneón nas terças, quintas, e quando lhe dá na telha. Naquele vagão, funciona hoje o Café dos Ausentes. O músico cego relembra os tempos em que recebia os viajantes com música.

A cidade então não era o território de fantasmas de hoje. Gente chegava, gente partia, gente chorava, gente ria. Havia vida nas casas, nas poucas ruas, na praça e tudo passava pela estação.
A cidade ficou ilhada no dia em que acabaram com o transporte ferroviário. As viagens cessaram, o trem nunca mais andou. Muita gente foi embora em busca de um futuro.
Da estação de trem de Passo dos Ausentes tanto se partia rumo ao universo como se voltava ao colo materno.
- Eu estou aqui esperando a próxima composição de passageiros. Quando chegar, quero estar no meu posto, tocando o bandoneón. Para isso fui contratado em 1943, através de concurso público. Era um menino. A estação ainda vai ter vida um dia – diz Juan Niebla.
A cidade parece ter saído de um velho álbum de fotografias. Mas nada, nenhum homem, nenhum governo e nenhum absurdo - como o fim da ferrovia - conseguirão nos enterrar vivos e tampouco as coisas boas que foram um dia. Acreditamos que há um amanhã para nós.

Há algo que pulsa nas ruínas caladas dessa cidade, algo que insiste em sobreviver, um sentido de permanência na memória e no afeto dos poucos que ficaram.
Em certas madrugadas geladas de junho, ouve-se ao longe o ruído de rodas de aço deslizando sobre os trilhos. De súbito as luzes da estação se acendem.
 
A velha locomotiva estremece sobre os dormentes, expele fumaça branca pela negra chaminé, apita como se tivesse recém-chegado de uma longa viagem. Ninguém consegue entender o que acontece. Ninguém ousa ir até lá, todos observam à distância.

Vê-se um passeio de sombras na plataforma. Vozes longínquas se misturam, vultos se projetam nas janelas.
Num instante as luzes da estação se apagam novamente. O silêncio da noite toma conta do lugar outra vez.
O vento embala as flores das magnólias. Um gato volta a dormir no banco do maquinista.



photo: j.finatto
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O tecido da tua ausência:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/12/o-tecido-da-tua-ausencia.html
Texto revisto, publicado anteriormente em 22 de dezembro, 2012.
 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Shuukatsu, o perfeito funeral

Jorge Adelar Finatto


photo: camélia. j.finatto
 
A notícia vem do Japão. Shuukatsu é o mais instigante neologismo surgido naquele país recentemente. Resulta da combinação dos termos "fim" e "agir", significando "preparar o seu próprio fim". Cada vez mais as pessoas preparam a própria morte para não transferir o problema aos outros.

Li sobre o assunto na Folha de São Paulo.* Diz o informe que no Japão, ao final de cada ano, são escolhidas as novas palavras mais populares, selecionadas por um júri de intelectuais. A seleção é promovida pela editora Jiyu Kokumin, que publica o anuário Gendai Yogo no Kiso Chishiki (informações sobre vocabulário contemporâneo), obra muito esperada, cujos verbetes indicam neologismos que poderão vir a fazer parte de dicionários.

A palavra shuukatsu foi lançada no semanário Shukan Asahi, que publicou várias reportagens sobre o tema em 2009. A expressão ganhou força no ano passado, quando o jornalista Tetsuo Kaneko, antes de morrer de câncer, aos 41 anos, preparou o que a imprensa denominou o funeral perfeito, escolhendo até mesmo a flor para ficar ao lado de sua foto durante o velório.

Pra completar, o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, declarou, em janeiro passado, segundo o mesmo artigo, que uma pessoa idosa como ele, 72 anos, deveria "se apressar e morrer", desonerando desta forma o Estado.

Pelas regras do shuukatsu, o futuro defunto deve resolver as dívidas que possui, deixando tudo pago, o túmulo inclusive, elaborar um testamento que afaste as brigas entre herdeiros, bem como acertar os detalhes da cerimônia.

Pois era isso o que faltava, digo eu.

A prática é realista, não há novidade, muitas pessoas sempre se ocuparam disso, desde os antigos egípcios. Mas é triste.

Vive-se, em geral, muito mal e, para compensar, antecipam-se os preparativos para o fim da vida. Uma beleza, né! 

Se a vida está muito difícil, se viver se tornou insuportável, se doenças galopantes nos espreitam, se os donos da rua, da cidade, do país e do planeta tornaram o mundo um lugar intolerável, quem sabe não será a hora de se cuidar com desvelo da própria morte, antecipando a fuga deste mar de lágrimas?
  
A idéia está bem de acordo com o conselho do senhor ministro das Finanças: que os idosos se apressem e morram, facilitando assim as coisas para o Estado. Pois é.
 
Eis aí, portanto, o que resta do ato de ter nascido: passar os últimos tempos, alguns meses, talvez anos, organizando o próprio funeral, e tome correr para quitar dívidas, fazer testamento, escolher as flores do velório, as últimas roupas, a maquiagem, a música, a lista de convidados, comes e bebes, texto de despedida, quem sabe um vídeo com as últimas declarações aos que ficam.
 
De minha parte, aviso que não pretendo aderir ao shuukatsu, pelo menos não por agora.  É que ainda ando atrás de uma alegria, uma pequena alegria que ilumine meu dia. Não estou falando de felicidade, mas de um instante de ternura, harmonia, amizade.

Estou exausto de viver no meio de tanta morte.

Ando à procura de um jardim de camélias debaixo do céu azul. E quero a louca esperança de acreditar que alguma coisa boa virá pelo caminho na vida de todos nós.
 
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* O verbete, por Angelo Ishi, Folha de São Paulo, edição de 27 de janeiro, 2013, caderno Ilustríssima. O autor do texto, 44 anos, é jornalista e professor de Sociologia em Tóquio.
 

terça-feira, 4 de junho de 2013

O apanhador de estrelas

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto
 

Escrever é estar vivo. Compartilhar isso com o outro é felicidade. 

Esse texto aconteceu durante uma falta de luz que lançou a casa e a rua no mais profundo breu.
 
Saí pelos armários e gavetas às cegas, apalpando em busca de coisas capazes de substituir a luz.
 
Velas, fósforos, lanterna, isqueiro, lamparina a óleo, qualquer coisa para iluminar a escuridão. O breu do ambiente. O breu na alma.

Um apanhador de estrelas.

O que é o texto senão um telescópio mirando a espessa névoa dos corações e mentes? Que podem dizer as palavras que ainda não foi dito? Falar a quantos olhos nascem no planeta todos os dias, luz das estrelas.
 
Na sala calada, o apanhador rumina paciência, viaja distâncias, abraça ausências, inventa afetos, estuda anotações de outros exploradores, ajusta as lentes do seu instrumento.

Viajar por esse mistério chamado existência.

O apanhador espreita a noite infinita à procura de um sinal, um movimento, uma luz distante e amiga, uma voz que acalente o coração na hora iluminada.

As palavras criam asas, inauguram o voo. Dias de trabalho para conseguir uma única página.

O apanhador se sente vivo e no caminho. Graças a Deus.
 
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Texto revisto, publicado antes em 9 de janeiro, 2013.
 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Aeromóvel: um avião sobre trilhos

Lorenzo Finatto
 
Oskar Coester e o aeromóvel. fonte: Wikipédia
 
Sou do início da década de 1980 e, desde criança, ouço maravilhas sobre um tipo de transporte público não poluente, barato, silencioso, movido por engenhoso mecanismo – em uma explicação leiga, misto de trem e avião que se utiliza de motores elétricos, os quais acionam um sistema de ar que se movimenta  por dutos localizados sob o veículo, colocando-o em movimento. Em linguagem mais técnica: o veículo se movimenta por meio de um “singular sistema de propulsão pneumática”.
Trata-se do aeromóvel, inventado por Oskar Hans Wolfgang Coester, empresário e inventor brasileiro, nascido em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Coester foi responsável pelo setor de manutenção de aeronaves da Varig, sob o comando de Rubem Berta, e é o fundador da Aeromóvel Brasil S.A., empresa que desenvolveu e implantou a tecnologia de transporte pneumático por ele inventada.
Entre o final da década de 1970 e o início da de 1980 foi obtida a primeira patente da nova concepção, internacionalmente conhecida por Sistema Aeromóvel.
Lá se vão quase 40 anos, e é triste constatar que muitas boas ideias, revolucionárias como essa, infelizmente, são colocadas em prática só muitos anos depois de concebidas, em prejuízo de gerações. E não há dúvida de que o futuro do transporte urbano moderno passa, necessariamente, pela implementação de múltiplas linhas do aeromóvel, veículo não poluente, absolutamente silencioso, veloz, de baixo custo para o passageiro e que muito bem se harmoniza com a paisagem da cidade, valorizando-a.
Isso a um custo pequeno, se comparado com o valor necessário para a construção, por exemplo, de um sistema de transporte de metrô subterrâneo (ou mesmo de superfície), com desapropriações inevitáveis e o trabalho árduo e delicado de perfuração do solo em áreas densamente povoadas. Lembro de caminhar com meu pai, com uns 7 anos de idade, admirando a estrutura sobre a qual, em 1983, em Porto Alegre, quase à beira do Guaíba, operou uma linha-piloto de testes onde foram certificados os componentes da tecnologia criada por Coester.

Detalhe importante: o aeromóvel movimenta-se pelo ar, sobre trilhos colocados em uma via sustentada por pilares que ocupam muito pouco espaço, em nada interferindo no trânsito terrestre de pessoas e veículos.


Aeromóvel em Jacarta, Indonésia. fonte: Wikipédia

De fato, nas proximidades do Parque Harmonia e da Usina do Gasômetro, em 10 de abril de 1983, realizou-se a primeira viagem da linha experimental em Porto Alegre, na Avenida Loureiro da Silva, com duas estações espaçadas entre si em 750 metros, num percurso total de 1,1 quilômetro. Contudo, o projeto não foi adiante.
Destaco a paciência desse notável inventor gaúcho. Um homem admirável não apenas pela qualidade do invento, mas também pela persistência com que, ano após ano, entra governo sai governo, ele aguarda e resiste à lamentável inércia diante de um projeto que tornaria nossa cidade rigorosamente sustentável e bem servida no item transporte. O que ele deve pensar quando vê bilhões de reais despejados na construção de inúteis estádios de futebol, num país em que tanto falta, inclusive em termos de transporte público de qualidade?...
Mas a invenção se impôs por si mesma, como acontece, acredito, com tudo aquilo que tem genuíno valor.
Apesar de o projeto não ter ido adiante no Brasil, foi implantado com sucesso, em 1989, na cidade de Jacarta, capital da Indonésia. Constitui-se de uma linha circular construída no interior de um parque ecológico, que abriga centros de convenções, teatros, hotéis etc.
Agora foi construída uma linha do aeromóvel ligando a estação de metrô (Porto Alegre só tem de superfície) do aeroporto até o Aeroporto Internacional Salgado Filho. Com 1000 metros de extensão, é a primeira linha utilizada comercialmente no Brasil e será administrada pela empresa Trensurb. A linha recebeu no dia 13 de abril de 2013 o primeiro vagão para passageiros, com capacidade de 150 usuários. É prevista para junho a chegada do segundo vagão com capacidade para 300 passageiros. Devagar, o sonho vira realidade.
Está em estudo uma outra linha de aeromóvel que ligará a Estação Mercado Público do metrô, no centro de Porto Alegre, até a zona sul da cidade, interligando o centro histórico a pontos importantes, como o Estádio Beira-Rio, o Museu Fundação Iberê Camargo, o Barra Shopping Sul, clubes náuticos e vários outros.
Fico imaginando a vista desse silencioso passeio, às margens do Rio Guaíba. O sol no rosto; algum pensamento bom pelo caminho. A paisagem preenchendo com a beleza os olhos e o coração.
E aí, quem quer embarcar? Todos a bordo: “Tripulação e passageiros, preparar para a decolagem no trem voador!"

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Fontes de pesquisa: site da Prefeitura de Porto Alegre:
http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/eptc/usu_doc/revista_mobilidade.pdf
e Wikipédia
Lorenzo Finatto é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no Rio Grande do Sul.

domingo, 2 de junho de 2013

O corpo doce da chuva

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto


a noite passada fiquei ouvindo a chuva no telhado.

desliguei a luz, fechei o livro, afundei na poltrona do escritório, pra ficar só com o som da chuva,

nas telhas, em volta da casa, nas árvores, no verde balde cantante do jardim.

fiz silêncio para ouvir. a voz da chuva.

me levou pra bem longe.

uma chuva como da primeira vez que choveu no mundo.
 
a chuva que alguém sentiu na pele há 6 mil anos num jardim perdido.

o som da chuva é música ancestral do mundo, a canção principial.

a chuva espalhou-se em mim e me arrastou pra longe do que eu sou, chuva boa de fugir nela.

imemorial e materna, colo pra dormir. 
 
fiz silêncio até me sentir parte da chuva, até me diluir no seu ventre, no seu corpo doce e molhado,

até me esquecer.
 

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Clarice

Jorge Adelar Finatto
 
Clarice Lispector
 

Eu vinha  torto de leituras difíceis, arrastadas, porque livro é um troço que, às vezes, pode ser muito chato. Há livros que nos levam a um rotundo cansaço, seguido de frustração, queremos terminar a leitura o quanto antes, como quem se livra de um pesado estorvo.

Não agradam nosso paladar (e paladar, como se sabe, cada um tem o seu). Nem sempre o problema é da obra, por vezes é o nosso gosto que não está bom.
 
Vinha eu sofrido nos tortuosos caminhos de páginas escarpadas, quando tive aquela iluminação que às vezes me salva: quem sabe leio ou releio alguma coisa de Clarice Lispector (1920 - 1977).

O texto clariceano jamais me deixa abandonado no meio do caminho, nunca me enfada. Salvo se enfadar tivesse algo a ver com fada, mas não é isso. Sim, porque Clarice tem alguma coisa de fada na escrita que brota de suas mãos ternas e violentas (sua força é capaz de revolver as entranhas do vulcão).
 
Mas então passei na livraria e lá estava A descoberta do mundo (Editora Rocco, Rio de janeiro, 1999), que reúne os textos que ela publicou no Jornal do Brasil, aos sábados, entre 1967 e  1973. São anotações, crônicas, pensamentos, pequenos contos e novelas.
 
Nesta coluna estou de algum modo me dando a conhecer. p. 137

É verdade, ao escrever para jornal, Clarice abriu portas e janelas do claro-escuro casarão de sua alma, que abriga uma multidão de outras almas nos seus misteriosos aposentos.

É preciso ter coragem e merecimento para conseguir aproximar-se de Clarice.

Além de rara escritora, uma linda mulher, que nada ficava a dever às divas do cinema e das capas de revista. Em Clarice encontravam-se reunidos, como poucas vezes acontece, beleza física e talento.

A natureza esmerou-se na sua criatura.

Estou agora, nessa madrugada gelada em Passo dos Ausentes, conjugando o verbo claricear, me delicio com seu texto alto, transcendente e humano, em que não há sobras, não há poses, mas um rigoroso mergulho em busca da expressão, que traz à tona tesouros escondidos nos corações e mentes de mulheres e homens.

Uma exploradora de águas profundas, Clarice consegue traduzir com palavras aquilo que dorme no mais recôndito de cada ser, e o faz com tal naturalidade que até parece uma coisa simples.

Felizes somos nós, os que podem lê-la no original em português, que presenciamos o milagre de sua criação sem necessidade de oráculos, bebendo na fonte um texto de valor universal.

Peço humildemente para existir, imploro humildemente uma alegria, uma ação de graça, peço que me permitam viver com menos sofrimento, peço para não ser tão experimentada pelas experiências ásperas, peço a homens e mulheres que me considerem um ser humano digno de algum amor e de algum respeito. Peço a bênção da vida. p. 117

Bons tempos em que escritores como  Clarice Lispector escreviam para jornal. O prazer de ir até a banca da esquina e lá encontrá-la brihando na página efêmera do sábado.

Uma época em que também escreviam em jornal Carlos Drummond, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, José Carlos Oliveira, Guilhermino Cesar, Carlos Reverbel, Tarso de Castro, Joel Silveira, Mario Quintana, entre muitos outros. Poupo o leitor de comparações com o que (não) temos atualmente, não vale a pena.

O que importa é que, sempre que reencontro Clarice, redescubro a alegria da palavra e volto a me sentir um peixe feliz no aquário.